Português | English
Entrevista/Interview
En Français
Abollo Awasai Médiateur culturel et représente l’association Pikin fu a liba (Saint-Laurent-du-Maroni, Guyane) Rio de Janeiro, 6 de maio de 2014 Propos recueillis par Clémence Léobal(IRIS/Université Paris- Decartes) Abollo Awasai, 56 ans, est médiateur culturel et représente l’association Pikin fu a liba, de Saint-Laurent-du-Maroni. D’origine Ndjuka, il est venu spécialement de Guyane pour assister à ce colloque à Rio. Qu’est-ce qui vous a amené à venir ici à Rio ? J’ai entendu parler de ce colloque sur les marrons. En tant que fils d’esclaves marrons, quand on entend ce bruit-là, ça nous réveille. Chercher à connaître notre passé, notre histoire, c’est ce qui m’a poussé à venir assister à cette manifestation. J’avais envie de rencontrer d’autres personnes qui se battent pour la reconnaissance de ces traces. Je remercie Olivia d’avoir pris cette initiative, et l’université UFRJ pour ce travail énorme. Je vous souhaite une bonne continuation dans cette dure tâche qui ne fait que commencer. Quelle est la situation des marrons en Guyane ? En Guyane, nous sommes aussi sur le même combat que les quilombolas d’ici. Les peuples marrons du Surinam ont déjà été reconnus officiellement depuis plus de deux siècles : on a déjà un peu d’avance par rapport aux quilombolas parce que nous sommes des descendants originaires des marrons. On a des statuts à respecter, depuis la signature des traités, à commencer par celui signé en 1760 entre la Hollande et les chefs Ndjuka, qui continue d’être en vigueur aujourd’hui. Nous avons jusqu’à nos jours des Gaan Man reconnus à la fois par l’Etat du Surinam et par la Guyane, qui représentent les fils des marrons. Depuis la ruée vers l’or de la fin du XIXe siècle, il y a eu une forte présence des marrons en Guyane. Ils avaient un rôle économique important : ils travaillaient comme transporteurs sur les fleuves Maroni, Mana, Aprouague, métier qu’on appelle dans notre langue bagasi man. Ces piroguiers fondaient des familles avec des femmes créoles de Guyane. Ce n’est pas d’aujourd’hui que la migration a commencé ! A Saint-Laurent-du-Maroni, il y a eu des marrons qui se sont installés pour travailler bien avant l’arrivée des réfugiés en 1986. L’arrivée des réfugiés liée à la guerre civile a amplifié ce mouvement, faisant augmenter massivement la population Bushinenge de la ville jusqu’à nos jours. Vous êtes représentant de l’association Pikin fu a liba. Quelles sont ses activités ? L’association Pikin fu a liba regroupe les kabiten (chefs coutumiers) de Saint-Laurent-du-Maroni. Elle a été cofondée par l’anthropologue Diane Vernon, qui est secrétaire générale. Le but de l’association, c’est à la fois un but culturel et social : il s’agit de réunir la population pour participer aux échanges culturels de Guyane, et faire vivre les relations entre les villages de l’intérieur et la ville. Quand on parle des enfants de l’esclavagisme, c’est tous les Noirs des Amériques qui sont concernés. Le combat des Bushinenge rejoint celui des Noirs. Avec des manifestations comme ce colloque ici à Rio, on peut partager des connaissances historiques et culturelles avec la population. L’histoire n’a pas de frontière. Dernièrement, l’historien Bushinenge Jean Moomou a organisé un colloque sur l’histoire des marronnages à Saint-Laurent-du-Maroni réunissant beaucoup de chercheurs, dans le même esprit. Je souhaite qu’on ait plus de rencontres comme celles-ci pour diffuser ces connaissances. |
Em Português
Abollo Awasai Mediador cultural da Associação Cultural Pikin fu a Liba (St.Laurent do Maroni, Guiana Francesa) Rio de Janeiro, 6 mai de 2014 Entrevista realizada por Clémence Leobal (IRIS/Université Paris- Decartes). Tradução de Claudia Bongianino (PPGAS/MN/UFRJ) e Clémence Léobal Abollo Awasai, 56 anos, é mediador cultural e representante da associação Pikin fu a liba, de Saint-Laurent-du-Maroni. Membro do grupo Maroon Ndjuka, ele veio especialmente da Guiana Francesa para assistir ao “Colóquio Internacional Maroons e Businenges nas Guianas: pessoas, tempos e lugares”, realizado na cidade do Rio de Janeiro, nos dias 28 e 29 de abril de 2014. O que motivou o senhor a vir ao Rio de Janeiro? Eu ouvi falar desse Colóquio sobre os Maroons. Eu sou filho de escravos Maroons e, quando a gente escuta um barulho como o produzido por esse Colóquio, a gente acorda: procurar conhecer nosso passado, nossa história, isso que me levou a vir ao Rio de Janeiro e assistir ao Colóquio. Eu tinha vontade de encontrar com outras pessoas que lutaram pelo reconhecimento dos Maroons e de suas especificidades. Eu agradeço à Olivia Cunha por ter tomado a iniciativa de realizar o Colóquio e agradeço à UFRJ por esse trabalho enorme de organização. Eu pretendo dar uma boa continuidade a essa dura tarefa, que está apenas começando. Qual é a situação dos Maroons na Guiana Francesa? Na Guiana nós estamos no mesma luta que os quilombolas daqui do Brasil. Os povos Maroons do Suriname e da Guiana Francesa já foram reconhecidos oficialmente há mais de dois séculos: nós já temos um pouco de avanço em relação aos quilombolas, pois nós somos os descendentes diretos dos Maroons originários. Desde a assinatura do tratado em 1760, entre a Holanda e os chefes Ndjuka, nós temos um status para respeitar. O tratado continua em vigor e, até hoje, temos alguns Gaan Man[1] que representam os filhos dos Maroons e que são reconhecidos pelos Estados do Suriname e da Guiana. Desde a corrida pelo ouro no final do século XIX, havia uma forte presença marron na Guiana Francesa. Os Maroons tinham um papel econômico importante, eles trabalhavam como navegadores nos rios Maroni, Mana, Aprouague – profissão que, na nossa língua, nós chamamos de bagasi man. Esses navegadores Maroons criaram famílias junto com suas mulheres, que eram criolas da Guiana Francesa. A migração não começou hoje! Muitos Maroons se mudaram para trabalhar em Saint-Laurent-du-Maroni bem antes da chegada dos refugiados da guerra civil em 1986. Sua chegada ampliou a migração dos navegadores, fazendo aumentar massivamente a população Maroon da cidade, até os dias de hoje. O senhor é representante da associação Pikin fu a liba. Quais são as atividades da associação? A associação Pikin fu a liba reune os kabitens[2] de Saint-Laurent-du-Maroni. Ela foi co-fundada pela antropóloga Diane Vernon, que atualmente é secretária geral da associação. O objetivo da associação é cultural e social: ela busca reunir a população para participar das mudanças culturais da Guiana Francesa; além disso, ela busca animar as relações entre a cidade de Saint-Laurent-du-Maroni e as aldeias Maroon do interior. Falar sobre os filhos da escravidão diz respeito a todos os Negros das Américas. A luta dos Marron se conecta à dos Negros. Através de manifestações como o Colóquio realizado aqui no Rio de Janeiro, podemos compartilhar conhecimentos históricos e culturais com a população. A história não tem fronteiras. Recentemente, o historiador Maroon Jean Moomou organizou um Colóquio sobre a história Maroon em Saint-Laurent-du-Maroni, que reuniu muitos pesquisadores e que tinha o no mesmo espírito que o Colóquio realizado aqui. Eu espero que haja mais encontros como esses dois para difundir os conhecimentos Maroons. [1] Gaan Man são os chefes supremos de cada grupo Maroon no Suriname e na Guiana Francesa. [2] Chefes tradicionais Maroons, inferiores aos Gaan Man. |