Fe.LAH: Fórum de Elaborações Etnográficas
O primeiro Fe.Lah (2018) foi uma tentativa de criar um espaço de interlocução no qual as amarras da linguagem escrita acadêmica pudessem ser colocadas em suspenso. De forma alguma, negadas, apenas deixadas de lado. Não havia um projeto ou direção, mas convite para experimentar respostas para as tantas e por vezes ignoradas perguntas. E se a etnografia captasse a intensidade de um certo encontro, que cheiro, timbre, frequência e tonalidade ela teria? Como fazer com que a captura desses efeitos-afetos sejam trasladados para o texto? Que textura um texto sem as amarras da forma traduz? E assim foi. Naquele fim de semestre do ano em que o fogo consumiu nossa casa ocupamos as instalações do CBAE. A invasão convidava a outras formas de movimento em espaço desconhecido. Cogitamos pensar que a experimentação não implicava suspender as exigências da forma, mas dissecá-las. Comê-las. Deixá-las dissolvendo sobre a língua como as balas de côco vendidas no trem. Foram tímidos os passos, inseguras mordidas. Mas nossos textos foram, ao menos, tocados. Ali, onde a forma, exigente, resiste, ocupamos. Lá, sem platéias e entre-nós, desvelamos poucos nós.
O primeiro Fe.LAH é o passo trôpego e desvairado dos bebês. Pois o desmedido ato cravou no solo uma marca em textura incerta. É desse modo que a tentativa se tornou busca: ocupar o rigor da (in)disciplina com a dúvida. Que o texto etnográfico regurgite algo mais do que “verdades”. Mas qual antropologia? Aquela do tempo de experimentar criar outras perguntas sobre o fazer-mundos.
O primeiro Fe.LAH é o passo trôpego e desvairado dos bebês. Pois o desmedido ato cravou no solo uma marca em textura incerta. É desse modo que a tentativa se tornou busca: ocupar o rigor da (in)disciplina com a dúvida. Que o texto etnográfico regurgite algo mais do que “verdades”. Mas qual antropologia? Aquela do tempo de experimentar criar outras perguntas sobre o fazer-mundos.
Fe.LAH #2 (2022)
em breve
Curadoria: João Alipio Cunha e Marcela Andrade
Inscrições: https://bit.ly/3mPJ3ca.
Em 2021-22, o Fórum de Elaborações Etnográficas do Laboratório de Antropologia e História, (Fe.LAH) toma, como força propulsora à sua realização, o caráter distintivo das experimentações. Inspirados pelas rachaduras e desnorteamentos de fundacionais lugares de pensamento, nos inclinamos a ousadia proposta pelas recombinações entre processos artísticos e acadêmicos, entre tecnologias e plataformas, entre imaginários e conceitualizações: uma proposta de transdução entre as ferramentas antropológicas e as acomodações criativas.
Descapsular o invólucro do campo da arte e da antropologia e, ao mesmo tempo, torná-los termos de novas análises combinatórias, é a tônica que aqui se prima. Como repensar e, ao mesmo tempo propor, novos ordenamentos epistêmicos antropológicos através da “arte”? Como reinventar e possibilitar novos jogos de afinidades entre esses dois campos, pretendendo invenções e reformulações de suas linhas de forças, potencializando a emergências de novos sentidos, conceitos e cenários, incitando outras e possíveis ordenações?
A proposta, então, é uma conversa aberta que busca explorar a relação entre as formas e plataformas artísticas e criativas e a maneira como estas tangenciam, espelham e/ou desconcertam, ao mesmo tempo que possibilitam novos vislumbres e remodelamentos às investigações antropológicas.
Eis o desafio lançado.
Em 2021-22, o Fórum de Elaborações Etnográficas do Laboratório de Antropologia e História, (Fe.LAH) toma, como força propulsora à sua realização, o caráter distintivo das experimentações. Inspirados pelas rachaduras e desnorteamentos de fundacionais lugares de pensamento, nos inclinamos a ousadia proposta pelas recombinações entre processos artísticos e acadêmicos, entre tecnologias e plataformas, entre imaginários e conceitualizações: uma proposta de transdução entre as ferramentas antropológicas e as acomodações criativas.
Descapsular o invólucro do campo da arte e da antropologia e, ao mesmo tempo, torná-los termos de novas análises combinatórias, é a tônica que aqui se prima. Como repensar e, ao mesmo tempo propor, novos ordenamentos epistêmicos antropológicos através da “arte”? Como reinventar e possibilitar novos jogos de afinidades entre esses dois campos, pretendendo invenções e reformulações de suas linhas de forças, potencializando a emergências de novos sentidos, conceitos e cenários, incitando outras e possíveis ordenações?
A proposta, então, é uma conversa aberta que busca explorar a relação entre as formas e plataformas artísticas e criativas e a maneira como estas tangenciam, espelham e/ou desconcertam, ao mesmo tempo que possibilitam novos vislumbres e remodelamentos às investigações antropológicas.
Eis o desafio lançado.
DESCOMPOSTURA (2020)
Realizado por Alline Torres, Anaduda Coutinho, Marcio Plastina e Víctor Alvino.
https://www.youtube.com/watch?v=hP9oDus09A4&t=2s
Realizado por Alline Torres, Anaduda Coutinho, Marcio Plastina e Víctor Alvino.
https://www.youtube.com/watch?v=hP9oDus09A4&t=2s
Filme experimental feito com imagens em movimento de mulheres e jovens negras registradas, enquanto trabalhavam, sob uma estética da fratura. Seus corpos foram posicionados pelos olhos dos homens brancos das classes médias como se fossem partes que serviam de escora, suporte e de espectadoras das vidas que dependiam delas. O filme desarranja esta estética visual. Faz ver que, entre quem registrava e entrava, marginalmente, em foco, havia o olhar feminino negro. Que encarava, numa afronta, a câmera, demonstrando afirmação, contestação e constrangimento. Exibido na Mostra Lanterna Mágica do Arquivo em Cartaz 2020, na 16a Mostra CineOP, no 5o Festival Ecrã, na Mostra Curta Niterói, na IX Mostra Curta o Gênero, fará parte da programação oficial do 14o Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul. Brasil, África e Caribe e outras Diásporas e foi selecionado para 3o Festival do Filme Etnográfico do Pará, na Mostra Competitiva Jean Rouch.
ALLINE TORRES
Doutora em Antropologia (MN-UFRJ). Pesquisa cosmologias e práticas rituais afro-caribenhas, e, atualmente, dedica-se à realização audiovisual pensando arquivos, cidade, criação imagética feminina negra e narrativas decoloniais. Publicou, em 2020, seu livro de estreia, De Madureira à Dona Clara: suburbanização e racismo no Rio de Janeiro no contexto pós-emancipação (1901-1920), pela Editora Hucitec, e foi uma das realizadoras do curta-metragem, Descompostura, vencedor da Mostra Lanterna Mágica do Arquivo em Cartaz 2020, cujo argumento nasce de suas pesquisas sobre subúrbios no Rio de Janeiro e mulheres e jovens negras após a abolição.
Doutora em Antropologia (MN-UFRJ). Pesquisa cosmologias e práticas rituais afro-caribenhas, e, atualmente, dedica-se à realização audiovisual pensando arquivos, cidade, criação imagética feminina negra e narrativas decoloniais. Publicou, em 2020, seu livro de estreia, De Madureira à Dona Clara: suburbanização e racismo no Rio de Janeiro no contexto pós-emancipação (1901-1920), pela Editora Hucitec, e foi uma das realizadoras do curta-metragem, Descompostura, vencedor da Mostra Lanterna Mágica do Arquivo em Cartaz 2020, cujo argumento nasce de suas pesquisas sobre subúrbios no Rio de Janeiro e mulheres e jovens negras após a abolição.