Quando furacões, ciclones, tsunamis, erupções vulcânicas e terremotos revolvem as terras e as águas – replicando fins dos mundos criados por populações nativas e ‘transplantadas’ do e para o Caribe – eles também deixam à mostra os efeitos da plantation; a segregação espacial, as desigualdades raciais, a continua produção de corpos, todos ruínas de uma ‘ecobiopolítica’ que se reproduz e secreta o Plantationceno. Engrenagens movidas por formas variadas de desumanização, domesticação e feralização. As marcas estão no solo, nas marés que conectam mar e terra, na paisagem que alude a um tempo em que o antropoceno era indissociável do fazimento de enclaves voltados para a produção e exportação de riquezas em constante transformação. O abandono da monocultura dando lugar à indústria do turismo e do desejo, a criação de estruturas agroindustriais e mineradoras associadas a excepcionalidades jurídicas, as maquinações e os conceitos que tornaram a plantation a antessala da corrosão, do ressecamento dos solos e da devastação das florestas permanecem em ação. Diferentes actantes vêm deixando a mostra as inscrições da “máquina plantation” (Benítez-Rojo 1991) ao desvelarem fragmentos e ruínas agora ‘retomadas’ pelos descendentes dos escravizados que vivem no que restou de distintas estruturas coloniais; caminhos percorrido por humanos e não-humanos em fuga, evidências de outras presenças a interrogar as ontologias do Plantationceno. As “retomadas” agenciam continuidades, o retorno e a recriação de outras ontologias da terra, modos de produzir outros “aterramento(s)” (Latour 2020). ‘Aterrar’ e ‘retomar’ são, assim, modos de retornar para o lugar do qual se partiu, uma natureza animada pela presença de ancestrais, espíritos, deuses, plantas, pedras e outros viventes. Os subprojetos que compreendem o projeto Entre a Plantation e o Plantationceno - teorias etnográficas sobre os refúgios e as rotas de fuga propõem colocar em relevo experiências de criação de "territórios existenciais" que direta ou indiretamente reativam e tornam presentes e reconhecíveis as paisagens, as relações e os efeitos do que diferentes autores definiram como "sistemas", "sociedades", "domínios" e "regimes" de plantação. O projeto propõe, assim, (re)interrogar o Plantationceno desde o Caribe a partir de leituras decoloniais. Procura-se conhecer estratégias locais, formas de enfrentar a extensão e intensidade das transformações provocadas pelo Plantationceno por meio do contato com etnografias sobre experimentos que fazem brotar conhecimentos e teorias alternativas sobre o trabalho de criar a vida a partir das paisagens da ruína, do abandono, da dominação e da destruição. Nosso propósito é etnografar formas de vencer a morte e a desterritorialização, de sobreviver em refúgios e criar “rotas de fuga”.
Pesquisadores PPGAS | Museu Nacional | UFRJ
Aline Maia Bruna Silva Fernando Vieira Francisca Marcela A. Lucena João Alipio Cunha Juliane Oliveira Helena Monahan Maria Marcelina Azevedo Olivia Gomes da Cunha (coord.) Rogério Viana Pesquisadores de outras instituições Clémence Léobal (CNRS - Lavue / Lisst) Malcom Ferdinand (CNRS/Université Paris Dauphine-PSL) Rivke Jaffe (University of Amsterdam) Apoio Técnico Laura Lobato-Baars Bolsas & PrêmiosO projeto de pesquisa de Rogério Louvain Viana Filho, intitulado Plantation, Petróleo e Infraestrutura na Guiana: fronteiras difusas no Plantationoceno, foi contemplado com uma bolsa de pesquisa da Wenner-Gren Foundation para desenvolvimento de pesquisa de campo, e da Fulbright Comission para realização de doutorado-sanduíche na Universidade de Chicago.
Marcela Andrade recebeu bolsa da The Huntington Library, Art Museum and Botanic Garden.
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Próximas atividades: 15-16 de Agosto 2024 Passados Futuros da Plantation em Mundos Multiespécie Past Futures Plantation in Multispecies Worlds Organização: LAH/MN/UFRJ e University of Amsterdam Apoio: FAPERJ e UvA/European Research Council Programação Atividades recentes:
Julho 10-12 |The ALARI Third Continental Conference on Afro-Latin American Studies USP e Geledés
Universidade de São Paulo Juliane Oliveira: “A resistência Gangá-Longobá: narrativas sobre conexões transatlânticas entre Serra Leona e Cuba” - Programa Julho 9 | Global South Studies Center Seminar
Köln Universitat Olívia Gomes da Cunha apresentou o paper "The forest beings and the alterity:an ethnography of Ndyuka historicities" Maio 7, 2024 | Josef Korbel School of International Studies,
University of Denver Aline Maia apresentou o paper Mothering Activism People’s Courts, and Resistance to Black Genocide in Brazil Maio 4 e 5, 2024 | Center for African & African American Research Harvard University
Aline Maia apresenta o paper Mothering Activism People’s Courts, and Resistance to Black Genocide in Brazil Maio 11, 2023 | Political animals: A more-than-human approach to urban inequalities Conference
University of Amsterdam Olivia Gomes da Cunha apresentou "Following the Stranger: Notes on Dogs and Dead Wandering on Streets” Março 29-31, 2023 | Bonn Center for Dependency and Slavery Studies (BCDSS), University of Bonn Painel "Like a plantation-machine: the remakings of the earth and the plantationocene" organizado por Clemence Léobal e Olivia Cunha no Socare Conference (29.3)2023 no BCDSS Paper apresentados: Oil machines, plantation-machine: repetition and transformation in a Guyanese coastal village Rogério Vianna (doutorando, PPGAS/MN/UFRJ) Mining to escape the plantation? The case of small scale gold mining in French Guiana Clémence Léobal (CNRS-Lavue)
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Aline Maia integrou a equipe de pesquisa que deu origem à série “Justiça 2” que estreou no dia 11 de maio na plataforma Globoplay. Na trama, os protagonistas são presos no mesmo dia e vão retomar suas vidas ao saírem da prisão, sete anos mais tarde, em busca de uma justiça que vai além da lógica dos processos judiciários.
João Alipio Cunha é o autor do prefácio e consultor do livro infantil O Diário de Violeta em Kamba Kua, de Alexandra Lima da Silva. O material é parte de sua pesquisa de doutorado sobre os Kamba Kua do Paraguai.
No dia 11 de março João Alipio Cunha realizou uma roda de conversa intitulada “A presença negra na história do Paraguai: a guerra Guasú e as lutas de resistência” no Colégio Estadual Rio de Areia. A atividade está associada ao seu projeto de doutorado (Composições e modos de ser Kamba: associação, máscaras e lutas por reconocimiento) desenvolvido com apoio da FAPERJ (CNE 2022) - Saiba mais João Alipio Cunha é o autor do prefácio e consultor do livro infantil O Diário de Violeta em Kamba Kua, de Alexandra Lima da Silva. O material é parte de sua pesquisa de doutorado sobre os Kamba Kua do Paraguai.
Freitas, Fernando. [prelo] Troding the way of I-n-I: a noção de pessoa entre os Bobo Shanti jamaicanos in Oxalá: Afro-Latinx Futures, Imaginings and Engagements. Sunny Press, NY [no prelo] [prelo] No-boss but the I-man: O comércio de alimentos e a construção da noção de pessoa entre os Rastafári Bobo Shanti na Jamaica. Mana [no prelo] Léobal, Clemence. 2021. Du béton sous les tropiques.Les politiques de logement dans les départements et régions d’Outre-mer”. Écologie & politique, 63.2 (2021): 43-56. 2021: avec Isabelle Léglise, et Bettina Migge. “Dire la blancheur chez les Businenge(e) en Guyane : pratiques de catégorisation et racialisation des rapports sociaux”. Cahiers des Amériques Latines, p.73-92. 2021: « Les couleurs du logement social. Racialisations croisées et marquages de l’habiter en Guyane française », Terrains & travaux, vol. 39, no. 2, 2021, pp. 61-86. 2021: “Le logement social en situation postcoloniale. État social, impérialisme et ségrégation à Saint-Laurent-du-Maroni”, Guyane. Métropolitiques, 2021 Cunha, Olívia Gomes da. 2024. “The earth is sweet. On Cottica Ndyuka (de)compositions.” Comparative Studies in Society and History66(2):1–25. 2023. “What dwells there? Some reflections on the houses that hold worlds.”Journal of WorldPhilosophies,Indiana University Press. Vol. 8, Number 2: 18-33. 2023."Displacing Win Slaven van Suriname: other collateral effects". Small Axe, 70(3): 67-77. 2022 "Two Ways Of Being Water: from the point of view of submerged worlds". The Perfect Storm. Diffrakt: Centre For Theoretical Periphery, 23/2/22. Link 2021."Clay and earth: Excavating partialities and relations." HAU: Journal of Ethnographic Theory 11.1 (2021): 174-190. Ferdinand, Malcom. 2022. DEcolonial ecology: Thinking from the Caribbean world, trad. A. P. Smith, Cambridge: Polity Press. 2022. "Behind the colonial silence of wilderness: "In Marronage liese the search of world", Environmental humanities, vol. 14 (1) March 1, p. 182-201 2022 (co-autor N. JAs) "Habiter colonial, pollution et production d'ignorance", in E. Henry & S. Boudia, Les politiques d'ignorance, Paris: Press Universitaires de France. 2021 (co-organizador) M. Manglou, Ecologie & Politique: Penser l'écologie depuis les outre-mer, Vol. 62, 2021 2021 “Beyond the Double Fracture of Modernity", From The Series: Sustaining The Momentum: Reparative Justice For European Colonialism and Slavery. Theorizing The Contemporary, Society For Cultural Anthropology. 21/12/2021. LinkDisplacing Wij Slaven van Suriname: other collateral effects”.Small Axe, 70(3):67-77 |
Pesquisas em imagens, escritas e notas de campo |
Série Habitar Refúgios no Plantationoceno 2022 |
14 de novembro,
Rivke Jaffe (University of Amsterdam) sobre o medo e suas sensibilidades não-humanas nos bairros de Kingston, Jamaica: "Dogs and Danger: More-than-Human Sensing of Urban Insecurity". Aline Maia (PPGAS/UFRJ/MN) sobre redes de apoio entre as mães de filhos mortos pelo genocídio negro na cidade do Rio de Janeiro. Mediação: Antonádia Borges (UFFRJ). 5 de dezembro
Brodwyn M. Fischer (Universidade de Chicago): “Entre a cidade negra e a cidade escrava: Os emaranhados do poder relacional na pós emancipação recifense”. André Dumans (UFF) Minerações e práticas de conhecimento da economia, do social, do cativeiro e dos movimentos Mediação José Sérgio Leite Lopes (PPGAS/UFRJ/MN). |