Seminário do LAH
Pele sobre Pele: miradas etnográficas sobre pessoas, tambores e outros toques
30 de Junho e 1 de Julho - 9h às 17h
PPGAS | Museu Nacional | Quinta da Boa Vista
São Cristóvão
2 de julho - 10h às 14h
Ocupa BaTuque - Treme Temer ao Som do Tambor!
OcupaMinc/Palácio Capanema
Rio de Janeiro
Pele sobre Pele: miradas etnográficas sobre pessoas, tambores e outros toques
30 de Junho e 1 de Julho - 9h às 17h
PPGAS | Museu Nacional | Quinta da Boa Vista
São Cristóvão
2 de julho - 10h às 14h
Ocupa BaTuque - Treme Temer ao Som do Tambor!
OcupaMinc/Palácio Capanema
Rio de Janeiro
O encontro pretende refletir sobre relações, práticas e afetos entre pessoas e artefatos musicais, em particular os percussivos (sejam eles acústicos, eletrônicos ou digitais). Refletindo a partir de material de pesquisas recém realizadas ou em andamento, os participantes convidados discutirão os sentidos conferidos à produção de sons, aos conhecimentos e afetos produzidos por meio de práticas musicais. O seminário pretende contribuir com leituras e escutas etnográficas das diferentes modalidades de envolvimento de pessoas e coletivos na criação de linguagens e conhecimentos sonoros, com atenção à maneira pela qual todos estes facultam o acesso e encontro com outros mundos, seres e tempos. O material etnográfico apresentado pelos participantes – por meio de exposições orais, audiovisuais e/ou musicais – explorará temas tais como o da articulação entre a feitura de instrumentos e a composição da pessoa e coletivos; o domínio, a maestria e o controle da(s) sonoridade(s) produzida(s) em performances públicas e rituais; os afetos humanos e não-humanos que participam de práticas designadas musicais e da confecção de instrumentos; as relações entre artefatos materiais e corpos, suas associações com gênero, raça, parentesco e sexualidade; a criação de temporalidades, espacialidades e modos de existência associados às intensidades, à duração e à reprodução sonora.
Quinta-feira, 30 de junho
9.30h - Sons: inscrever, afetar (Sala Lygia Sigaud)
tambores falam, etnógraf@s calam
Olivia Gomes da Cunha (PPGAS/MN/UFRJ) e Amir Geiger (PPGMS/UNIRIO)
Tambores, toques e as relações entre música e antropologia
Vincenzo Cambria (UNIRIO)
“O corpo, que é escravo, vai; a alma, que é livre, fica...”
Marina Berthet (PPGH-Depto História-UFF)
14h – Novas eras de reprodutibilidade (Sala Roberto Cardoso de Oliveira)
No embalo da rede: ritmo e reticulação - (apresentação online)
Pedro Ferreira (UNICAMP)
Experiências digitais: Hapax e o “Burro sem rabo”
Tatiana Bacal (PPGSA/IFCS/UFRJ)
Patrimônio da casa: notas sobre representação fonográfica e afrobrasilidade
Edmundo Pereira (PPGAS/MN/UFRJ)
Sexta-feira, 1º de julho
9:00h – Conexões sonoras
Instrumentos que tocam corpos: feminilidades e masculinidades em baterias de Escolas de Samba
Lucas Bilate (mestrando, PPGAS/MN/UFRJ)
Cúumu e Llaaríwa: trocanos Bora e seus usos
Maria Luisa Lucas (doutoranda, PPGAS/MN/UFRJ)
Gwoka: maneiras de ser, criar e recriar em Guadeloupe/ Caribe
Mariana Vitor Renou (doutoranda, PPGAS/MN/UFRJ)
A Roça de Teresa
Spirito Santo (Vissungo)
14h – Pessoas-coisas-pessoas (Sala Castro Faria)
Ser al sonar: personas y artefactos sonoros entre los mapuche de Chile
Antonio Tobon (doutorando, PPGAS/MN/UFRJ)
Na virada do tarol e no corte da terceira: a relação entre pessoa, som e espaço em uma bateria de escola de samba carioca.
Felipe Barros (doutorando, PPGSA/IFCS/UFRJ)
“Pessoa tambor”: escuta, fuerza e resistência no candombe da costa sul da cidade de Montevidéu - Uruguai
Virna Plastino (Coordenadoria Estadual por Memória e Verdade/SEASDH)
2 de julho
Música e Mobilização
9.30h - Sons: inscrever, afetar (Sala Lygia Sigaud)
tambores falam, etnógraf@s calam
Olivia Gomes da Cunha (PPGAS/MN/UFRJ) e Amir Geiger (PPGMS/UNIRIO)
Tambores, toques e as relações entre música e antropologia
Vincenzo Cambria (UNIRIO)
“O corpo, que é escravo, vai; a alma, que é livre, fica...”
Marina Berthet (PPGH-Depto História-UFF)
14h – Novas eras de reprodutibilidade (Sala Roberto Cardoso de Oliveira)
No embalo da rede: ritmo e reticulação - (apresentação online)
Pedro Ferreira (UNICAMP)
Experiências digitais: Hapax e o “Burro sem rabo”
Tatiana Bacal (PPGSA/IFCS/UFRJ)
Patrimônio da casa: notas sobre representação fonográfica e afrobrasilidade
Edmundo Pereira (PPGAS/MN/UFRJ)
Sexta-feira, 1º de julho
9:00h – Conexões sonoras
Instrumentos que tocam corpos: feminilidades e masculinidades em baterias de Escolas de Samba
Lucas Bilate (mestrando, PPGAS/MN/UFRJ)
Cúumu e Llaaríwa: trocanos Bora e seus usos
Maria Luisa Lucas (doutoranda, PPGAS/MN/UFRJ)
Gwoka: maneiras de ser, criar e recriar em Guadeloupe/ Caribe
Mariana Vitor Renou (doutoranda, PPGAS/MN/UFRJ)
A Roça de Teresa
Spirito Santo (Vissungo)
14h – Pessoas-coisas-pessoas (Sala Castro Faria)
Ser al sonar: personas y artefactos sonoros entre los mapuche de Chile
Antonio Tobon (doutorando, PPGAS/MN/UFRJ)
Na virada do tarol e no corte da terceira: a relação entre pessoa, som e espaço em uma bateria de escola de samba carioca.
Felipe Barros (doutorando, PPGSA/IFCS/UFRJ)
“Pessoa tambor”: escuta, fuerza e resistência no candombe da costa sul da cidade de Montevidéu - Uruguai
Virna Plastino (Coordenadoria Estadual por Memória e Verdade/SEASDH)
2 de julho
Música e Mobilização
Em construção
Quinta-feira, 30 de junho
9.30h - Sons: inscrever, afetar (Sala Lygia Sigaud)
tambores falam, etnógraf@s calam
Olivia Gomes da Cunha (PPGAS/MN/UFRJ) e Amir Geiger (PPGMS/UNIRIO)
Tambores, toques e as relações entre música e antropologia
Vincenzo Cambria (UNIRIO)
Os tambores, como artefatos e instrumentos produtores de som (e o conceito de “percussão” tal como foi a eles associado), podem ser assumidos como símbolos de uma ideia de alteridade cara tanto à antropologia como à tradição de estudos musicais que levaram ao que hoje chamamos de etnomusicologia. A maneira como têm sido abordados (e, muito frequentemente, como têm sido obliterados) nas análises antropológicas e musicológicas sobre práticas culturais afro-brasileiras, sobre a qual gostaria de propor algumas reflexões, diz muito sobre alguns pressupostos epistemológicos (etnocêntricos) resistentes nessas duas áreas de estudo que, sugiro, teriam a ganhar estabelecendo um diálogo mais efetivo.
“O corpo, que é escravo, vai; a alma, que é livre, fica...”
Marina Berthet (PPGH-Depto História-UFF)
Essas palavras atribuídas a Eugênio Tavares – poeta cabo-verdiano que escreveu o primeiro poema sobre emigração para São Tomé em 1912 – nos sugere novos significados e sentidos sobre a migração forçada de cabo-verdianos que trabalharam em São Tomé e Príncipe. Práticas expressivas que cantam, contam, sentem são elementos cruciais do corpus utilizado nesta pesquisa. Reflito sobre as expressões artísticas criadas pelos cabo-verdianos conectados ao fenômeno do trabalho forçado em São Tomé e Príncipe. A proposta para o seminário é focar minha atenção e análise sobre um finaçon em ritmo de batuque cantado por Ntoni Denti D’Oro, que inicia um lamento para cantar a dor dos que foram para São Tomé e Príncipe. Denti D´Oru é a voz solista desse finaçon, acompanhado por um tambor e um cimboa. Essa prática expressiva corresponde a uma escolha estética criadora de uma empatia entre o artista e migrantes trabalhadores e suas famílias, que nutrem esse repertório musical de suas emoções vividas. As músicas se tornam referências comuns, as expressões artísticas estimulam um sentimento de pertencimento a um mesmo mundo de entendimento, afetos e subjetividade. O finaçon de Denti D’Oro faz parte de um corpus artístico denso que alimenta o pensamento e o imaginário cabo-verdianos, realçando a subjetividade de migrar como capaz de unir espaços-tempos diversos das ilhas do arquipélago de Cabo Verde e seus migrantes, nômades, contratados em STP, exilados e errantes que circulam no Tout-Monde.
14h – Novas eras de reprodutibilidade (Sala Roberto Cardoso de Oliveira)
No embalo da rede: ritmo e reticulação
Pedro Ferreira (UNICAMP)
Ritmos são notoriamente centrais e ubíquos nas ciências naturais e sociais (ritmos do mundo físico, do mundo químico e da vida individual e coletiva). No entanto, via de regra, eles são confundidos com uma métrica ou frequência simples. Com o objetivo de contribuir para o avanço de nossa compreensão dos fenômenos rítmicos, proponho aqui uma concepção reticular de ritmo, baseada na ideia de uma compatibilização-sincronização-associação entre frequências de diferentes movimentos, uma configuração relacional de oscilações reiterada por meio de suas próprias variações. Segundo essa concepção, o ritmo é uma rede espaço-temporal que conecta pontos privilegiados no tempo e no espaço, i.e., lugares e momentos que favorecem a ação de quem age a partir deles. Esta concepção reticular de ritmo resulta do encontro de uma pesquisa empírica em torno da relação som-movimento na Música Eletrônica de Pista com a ideia de reticulação desenvolvida por Bruno Latour e Gilbert Simondon. Deixar-se levar pelo som é cair no embalo da rede, fazendo do próprio corpo um adensamento ativo de relações entre sons e movimentos.
Experiências digitais: Hapax e o “Burro sem rabo”
Tatiana Bacal (PPGSA/IFCS/UFRJ)
A performance do coletivo Hapax, denominada “Burro sem rabo”, consiste em uma série de performances de deriva urbana que objetiva ocupar espaços marginalizados de um grande centro urbano e intervir na paisagem sonora da cidade. O coletivo se propõe uma série de relações entre tecnologia, espaço urbano e modos de criação a partir da experiência de enfrentar a cidade com um grande carro metálico de carga que gera e coleta sons por onde passa e que cria desenhos digitais a partir de GPS para uma audiência no museu. Partindo desse projeto do Hapax, gostaria de propor uma etnografia dos resíduos a partir dos registros sonoros, escritos e audiovisuais que estão presentes nos sites do coletivo e dos integrantes individuais, em teses e artigos dos integrantes e em CDs gravados profissionalmente ou não. Esses registros passam a ter o poder de inventar uma nova experiência, cada um funcionando como uma “capacidade expandida” (Strathern, 1991) dos outros. Cada registro/suporte possibilita uma nova experiência e metodologia para adentrar aos polissêmicos sentidos de sonoridades e tecnologias manipuladas a todo instante pelo coletivo.
Patrimônio da casa: notas sobre representação fonográfica e afrobrasilidade
Edmundo Pereira (PPGAS/MN/UFRJ)
Nas últimas décadas, intensificou-se, em escala global, a produção de representações fonográficas de perfis étnicos e populares em regimes compartilhados entre pesquisadores-produtores e grupos representados. Nesse quadro, processos de gravação têm se tornado arenas não só bastante politizadas, como também reveladoras de dinâmicas de seleção e performance de repertórios culturais. A partir do caso do CD Ile Omolu Oxum, cantigas e toques para os Orixás, objetiva-se etnografar algumas dessas dinâmicas, em especial em contexto de uso de lógicas patrimoniais frente à intolerância religiosa.
Sexta-feira, 1º de julho
9:00h – Conexões sonoras
Instrumentos que tocam corpos: feminilidades e masculinidades em baterias de Escolas de Samba
Lucas Bilate (mestrando, PPGAS/MN/UFRJ)
A intenção é explorar e discutir as relações que conformam corpos e instrumentos musicais nos processos de construção de gêneros entre ritmistas de Escolas de Samba cariocas. Partindo da experiência etnográfica, pretende-se compreender as maneiras pelas quais corpos, gêneros, sexualidades e instrumentos musicais se imbricam, ressaltando-se as implicações desses processos na construção de identidades sexuais.
Cúumu e Llaaríwa: trocanos Bora e seus usos
Maria Luisa Lucas (doutoranda, PPGAS/MN/UFRJ)
Os Bora (pïïnemunáa, gente de centro), povo amazônico da região do Caquetá-Putumayo (Colômbia), possuem dois importantes trocanos: manguaré (cúumu) e yadiko (llaaríwa). Enquanto o primeiro está presente em todas as malocas, organizadas por grupos de filiação patrilineares, o segundo é exclusivo das que possuem a mais importante "carrera de baile". O manguaré é capaz de transmitir mensagens a larguíssimas distâncias por meio de sua dinâmica agudo/grave que simula a variação tonal das palavras em Bora. Por sua vez, o yadiko é tocado apenas raramente nas cerimônias de nominação de filhos mais velhos de certos donos de maloca. Minha intenção com essa exposição, basicamente etnográfica, é demonstrar de que maneira os trocanos são parte fundamental não apenas da vida ritual Bora, mas também das relações cotidianas e hierárquicas entre os diferentes grupos de filiação.
Gwoka: maneiras de ser, criar e recriar em Guadeloupe/ Caribe
Mariana Vitor Renou (doutoranda, PPGAS/MN/UFRJ)
Fim do carnaval, quarta-feira de cinzas, os tambores de Guadeloupe, arquipélago situado no Caribe, se calam com o fim da noite em nwè é blan. Assim permanecem por longos 40 dias, e só voltam a ser escutados após a festa da Páscoa. As ilhas ficam estranhamente silenciosas. Os sons do Gwoka ou do Ka, que se ouvem durante o dia nas ruas e durante a noite nas praças das comunas de todo o arquipélago, que se escutam nas casas, nas festividades e comemorações, nas confraternizações entre amigos, nas casas funerárias onde as pessoas velam seus entes queridos, nas manifestações políticas, nos mais variados eventos públicos, nas apresentações dos mais diversos grupos e movimentos culturais, estão ausentes. Nesses dias de silêncio, a força do Ka – de sua sonoridade e de seus sete ritmos hoje materializados e reproduzidos em diversos instrumentos; da dança que o acompanha e complementa num diálogo/desafio majestoso, do que ele cria e possibilita cada vez que soa solitário, em trio ou em qualquer de suas derivações e adaptações – é sentida com toda a intensidade pela falta, pela ausência. O Gwoka não foi objeto central da minha pesquisa, contudo, durante o trabalho de campo entre diversos movimentos e associações culturais e políticas locais, a presença deste era constante e de extrema necessidade. Segui-lo não era apenas inevitável, mas fundamental para compreender o que meus interlocutores faziam, mobilizavam, criavam e pensavam. Nesta apresentação, buscarei evidenciar, assim, modos de existência do Ka, a multiplicidade de formas que este actante pode gerar, o que ele produz, reúne e mobiliza nas atuações de diversos grupos locais, sua importância para a constituição de Guadeloupe e dos guadalupenhos.
A Roça de Teresa
Spirito Santo (Vissungo)
Exibição e comentários do vídeo-documentário homônimo, resultado de pesquisa realizada pelo músico e pesquisador Spirito Santo a partir da gravação em 1973 de uma entrevista com Maria Teresa Bento da Silva, ex-escrava no Vale do Paraíba do Sul, então com cerca de 116 anos. No filme ela narra, de própria e viva voz, fatos ocorridos durante o seu cativeiro em 1874, na Fazenda Santa Teresa, pertencente a João Gomes Ribeiro de Avellar, o Visconde de Paraíba. a entrevistada, conta como atravessou o século sendo a matriarca de uma dinastia jongueira que dançou o “jongo da roça” desde os tempos das senzalas, durante o ciclo do café em Paraíba do Sul até o fim de sua vida de sua vida na Serrinha, tradicional região de Madureira na zona norte do Rio de Janeiro.
[A roça de Teresa (26’). Direção, produção, montagem: Pedro Sol; Pesquisa, roteiro original, direção musical: Spirito Santo; Fotografia e câmeras: André Pamplona, José Carlos Soares]
14h – Pessoas-coisas-pessoas (Sala Castro Faria)
Ser al sonar: personas y artefactos sonoros entre los mapuche de Chile
Antonio Tobon (doutorando, PPGAS/MN/UFRJ)
Recolectando información etnográfica actual e histórica, en este trabajo se elabora una descripción de los artefactos sonoros que caracterizan a las prácticas musicales tradicionales del pueblo mapuche en Chile; como paso inicial para su observación en su situación contemporáneo en la ciudad de Santiago. En esa medida el objetivo de este trabajo es analizar cómo los artefactos sonoros hacen parte de la construcción de la persona mapuche, que se funda en su desenvolvimiento efectivo en la socialidad. Así, se observa cómo algunos artefactos sonoros como el kultrún, la trutruka, el trompe, y la wada participan de relaciones entre personas mapuche y no mapuche, bien sea estableciendo reciprocidades, delineando las características de persona, o especificando sus corporalidades; lo que pide describir, no obstante, las prácticas en las que se les hace sonar. Para ello, se presta atención a las especificidades asignadas culturalmente a las materias con las que son construidos y a sus características sonoras. Con tal de aproximar un entendimiento a cómo las materias sonando transportan cualidades y capacidades, una vez que son transformadas en objetos para ser afectados por ciertos cuerpos, o para algún cuerpo.
Na virada do tarol e no corte da terceira: a relação entre pessoa, som e espaço em uma bateria de escola de samba carioca.
Felipe Barros (doutorando, PPGSA/IFCS/UFRJ)
Essa comunicação trará considerações parciais da minha tese de doutorado e da pesquisa de campo conduzida entre os anos de 2010 e 2014 junto aos integrantes da bateria da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro. A primeira parte da apresentação será dedicada à exposição do ciclo preparatório para o desfile carnavalesco, abordando momentos em que os integrantes do conjunto deixam de lado papéis sociais cotidianos e se submetem a uma rígida rotina de ensaios e hierarquia, composta pelas figuras de um mestre, diretores e ritmistas. Apoiado em uma discussão sobre os processos rituais e formas liminares de associação, serão exploradas as categorias classificatórias, modos de distinção e suas modulações operadas pelos integrantes (ritmistas) do grupo de percussão. Apresentarei como a noção de “integrante da bateria” é inventada a partir de uma complexa rede de relações de reciprocidade que se expressam a partir das noções de “moral”, “confiança” e “comprometimento”. A intenção é demonstrar como a concepção de “pessoa” está diretamente relacionada à participação em um calendário de atividades e situações de performance que culminam no desfile de carnaval. Na segunda parte da comunicação, partindo de discursos nativos, será demonstrada a relação direta entre organização social do som e do espaço. Inicialmente serão examinadas as formas de organização do conjunto no espaço (concepções de espaço) e os valores morais atribuídos a determinados elementos sonoros e técnicas corporais. A intenção é demonstrar a continuidade entre os sistemas de classificação de pessoas, instrumentos (tambores), sons e espaço. Para isso, serão apresentados exemplos gráficos (mapas) da organização espacial da bateria e exemplos sonoros de “levadas” de instrumentos de percussão (tarol e surdo de terceira). Busca-se, assim, mostrar como tais sistemas de classificação convergem e se manifestam em situação de performance, sendo de fato, indissociáveis.
“Pessoa tambor”: escuta, fuerza e resistência no candombe da costa sul da cidade de Montevidéu - Uruguai
Virna Plastino (Coordenadoria Estadual por Memória e Verdade/SEASDH)
Baseada no estudo particular de famílias afrouruguaias de um ‘território negro’ de Montevidéu chamado Ansina, busco contribuir em direção a uma teoria etnográfica da “pessoa tambor” que dê maior inteligibilidade a outros contextos em que o toque, a dança, as famílias, os bairros e os movimentos de resistência afro se entreteçam. Examinarei as experiências relacionadas aos atos de tocar tambor e de dançar, bem como a noção de fuerza acionada especialmente na execução de ambas as atividades. Produzida através da escuta do chamado ancestral, veremos que a fuerza perpassa os corpos, impregna os objetos e espaços especiais. Os aspectos agonísticos associados a essa escuta diferencial fazem desta uma importante ‘arma de guerra’ própria daqueles que descendem de Ansina e convivem com seus tambores.
2 de julho
Música e Mobilização
9.30h - Sons: inscrever, afetar (Sala Lygia Sigaud)
tambores falam, etnógraf@s calam
Olivia Gomes da Cunha (PPGAS/MN/UFRJ) e Amir Geiger (PPGMS/UNIRIO)
Tambores, toques e as relações entre música e antropologia
Vincenzo Cambria (UNIRIO)
Os tambores, como artefatos e instrumentos produtores de som (e o conceito de “percussão” tal como foi a eles associado), podem ser assumidos como símbolos de uma ideia de alteridade cara tanto à antropologia como à tradição de estudos musicais que levaram ao que hoje chamamos de etnomusicologia. A maneira como têm sido abordados (e, muito frequentemente, como têm sido obliterados) nas análises antropológicas e musicológicas sobre práticas culturais afro-brasileiras, sobre a qual gostaria de propor algumas reflexões, diz muito sobre alguns pressupostos epistemológicos (etnocêntricos) resistentes nessas duas áreas de estudo que, sugiro, teriam a ganhar estabelecendo um diálogo mais efetivo.
“O corpo, que é escravo, vai; a alma, que é livre, fica...”
Marina Berthet (PPGH-Depto História-UFF)
Essas palavras atribuídas a Eugênio Tavares – poeta cabo-verdiano que escreveu o primeiro poema sobre emigração para São Tomé em 1912 – nos sugere novos significados e sentidos sobre a migração forçada de cabo-verdianos que trabalharam em São Tomé e Príncipe. Práticas expressivas que cantam, contam, sentem são elementos cruciais do corpus utilizado nesta pesquisa. Reflito sobre as expressões artísticas criadas pelos cabo-verdianos conectados ao fenômeno do trabalho forçado em São Tomé e Príncipe. A proposta para o seminário é focar minha atenção e análise sobre um finaçon em ritmo de batuque cantado por Ntoni Denti D’Oro, que inicia um lamento para cantar a dor dos que foram para São Tomé e Príncipe. Denti D´Oru é a voz solista desse finaçon, acompanhado por um tambor e um cimboa. Essa prática expressiva corresponde a uma escolha estética criadora de uma empatia entre o artista e migrantes trabalhadores e suas famílias, que nutrem esse repertório musical de suas emoções vividas. As músicas se tornam referências comuns, as expressões artísticas estimulam um sentimento de pertencimento a um mesmo mundo de entendimento, afetos e subjetividade. O finaçon de Denti D’Oro faz parte de um corpus artístico denso que alimenta o pensamento e o imaginário cabo-verdianos, realçando a subjetividade de migrar como capaz de unir espaços-tempos diversos das ilhas do arquipélago de Cabo Verde e seus migrantes, nômades, contratados em STP, exilados e errantes que circulam no Tout-Monde.
14h – Novas eras de reprodutibilidade (Sala Roberto Cardoso de Oliveira)
No embalo da rede: ritmo e reticulação
Pedro Ferreira (UNICAMP)
Ritmos são notoriamente centrais e ubíquos nas ciências naturais e sociais (ritmos do mundo físico, do mundo químico e da vida individual e coletiva). No entanto, via de regra, eles são confundidos com uma métrica ou frequência simples. Com o objetivo de contribuir para o avanço de nossa compreensão dos fenômenos rítmicos, proponho aqui uma concepção reticular de ritmo, baseada na ideia de uma compatibilização-sincronização-associação entre frequências de diferentes movimentos, uma configuração relacional de oscilações reiterada por meio de suas próprias variações. Segundo essa concepção, o ritmo é uma rede espaço-temporal que conecta pontos privilegiados no tempo e no espaço, i.e., lugares e momentos que favorecem a ação de quem age a partir deles. Esta concepção reticular de ritmo resulta do encontro de uma pesquisa empírica em torno da relação som-movimento na Música Eletrônica de Pista com a ideia de reticulação desenvolvida por Bruno Latour e Gilbert Simondon. Deixar-se levar pelo som é cair no embalo da rede, fazendo do próprio corpo um adensamento ativo de relações entre sons e movimentos.
Experiências digitais: Hapax e o “Burro sem rabo”
Tatiana Bacal (PPGSA/IFCS/UFRJ)
A performance do coletivo Hapax, denominada “Burro sem rabo”, consiste em uma série de performances de deriva urbana que objetiva ocupar espaços marginalizados de um grande centro urbano e intervir na paisagem sonora da cidade. O coletivo se propõe uma série de relações entre tecnologia, espaço urbano e modos de criação a partir da experiência de enfrentar a cidade com um grande carro metálico de carga que gera e coleta sons por onde passa e que cria desenhos digitais a partir de GPS para uma audiência no museu. Partindo desse projeto do Hapax, gostaria de propor uma etnografia dos resíduos a partir dos registros sonoros, escritos e audiovisuais que estão presentes nos sites do coletivo e dos integrantes individuais, em teses e artigos dos integrantes e em CDs gravados profissionalmente ou não. Esses registros passam a ter o poder de inventar uma nova experiência, cada um funcionando como uma “capacidade expandida” (Strathern, 1991) dos outros. Cada registro/suporte possibilita uma nova experiência e metodologia para adentrar aos polissêmicos sentidos de sonoridades e tecnologias manipuladas a todo instante pelo coletivo.
Patrimônio da casa: notas sobre representação fonográfica e afrobrasilidade
Edmundo Pereira (PPGAS/MN/UFRJ)
Nas últimas décadas, intensificou-se, em escala global, a produção de representações fonográficas de perfis étnicos e populares em regimes compartilhados entre pesquisadores-produtores e grupos representados. Nesse quadro, processos de gravação têm se tornado arenas não só bastante politizadas, como também reveladoras de dinâmicas de seleção e performance de repertórios culturais. A partir do caso do CD Ile Omolu Oxum, cantigas e toques para os Orixás, objetiva-se etnografar algumas dessas dinâmicas, em especial em contexto de uso de lógicas patrimoniais frente à intolerância religiosa.
Sexta-feira, 1º de julho
9:00h – Conexões sonoras
Instrumentos que tocam corpos: feminilidades e masculinidades em baterias de Escolas de Samba
Lucas Bilate (mestrando, PPGAS/MN/UFRJ)
A intenção é explorar e discutir as relações que conformam corpos e instrumentos musicais nos processos de construção de gêneros entre ritmistas de Escolas de Samba cariocas. Partindo da experiência etnográfica, pretende-se compreender as maneiras pelas quais corpos, gêneros, sexualidades e instrumentos musicais se imbricam, ressaltando-se as implicações desses processos na construção de identidades sexuais.
Cúumu e Llaaríwa: trocanos Bora e seus usos
Maria Luisa Lucas (doutoranda, PPGAS/MN/UFRJ)
Os Bora (pïïnemunáa, gente de centro), povo amazônico da região do Caquetá-Putumayo (Colômbia), possuem dois importantes trocanos: manguaré (cúumu) e yadiko (llaaríwa). Enquanto o primeiro está presente em todas as malocas, organizadas por grupos de filiação patrilineares, o segundo é exclusivo das que possuem a mais importante "carrera de baile". O manguaré é capaz de transmitir mensagens a larguíssimas distâncias por meio de sua dinâmica agudo/grave que simula a variação tonal das palavras em Bora. Por sua vez, o yadiko é tocado apenas raramente nas cerimônias de nominação de filhos mais velhos de certos donos de maloca. Minha intenção com essa exposição, basicamente etnográfica, é demonstrar de que maneira os trocanos são parte fundamental não apenas da vida ritual Bora, mas também das relações cotidianas e hierárquicas entre os diferentes grupos de filiação.
Gwoka: maneiras de ser, criar e recriar em Guadeloupe/ Caribe
Mariana Vitor Renou (doutoranda, PPGAS/MN/UFRJ)
Fim do carnaval, quarta-feira de cinzas, os tambores de Guadeloupe, arquipélago situado no Caribe, se calam com o fim da noite em nwè é blan. Assim permanecem por longos 40 dias, e só voltam a ser escutados após a festa da Páscoa. As ilhas ficam estranhamente silenciosas. Os sons do Gwoka ou do Ka, que se ouvem durante o dia nas ruas e durante a noite nas praças das comunas de todo o arquipélago, que se escutam nas casas, nas festividades e comemorações, nas confraternizações entre amigos, nas casas funerárias onde as pessoas velam seus entes queridos, nas manifestações políticas, nos mais variados eventos públicos, nas apresentações dos mais diversos grupos e movimentos culturais, estão ausentes. Nesses dias de silêncio, a força do Ka – de sua sonoridade e de seus sete ritmos hoje materializados e reproduzidos em diversos instrumentos; da dança que o acompanha e complementa num diálogo/desafio majestoso, do que ele cria e possibilita cada vez que soa solitário, em trio ou em qualquer de suas derivações e adaptações – é sentida com toda a intensidade pela falta, pela ausência. O Gwoka não foi objeto central da minha pesquisa, contudo, durante o trabalho de campo entre diversos movimentos e associações culturais e políticas locais, a presença deste era constante e de extrema necessidade. Segui-lo não era apenas inevitável, mas fundamental para compreender o que meus interlocutores faziam, mobilizavam, criavam e pensavam. Nesta apresentação, buscarei evidenciar, assim, modos de existência do Ka, a multiplicidade de formas que este actante pode gerar, o que ele produz, reúne e mobiliza nas atuações de diversos grupos locais, sua importância para a constituição de Guadeloupe e dos guadalupenhos.
A Roça de Teresa
Spirito Santo (Vissungo)
Exibição e comentários do vídeo-documentário homônimo, resultado de pesquisa realizada pelo músico e pesquisador Spirito Santo a partir da gravação em 1973 de uma entrevista com Maria Teresa Bento da Silva, ex-escrava no Vale do Paraíba do Sul, então com cerca de 116 anos. No filme ela narra, de própria e viva voz, fatos ocorridos durante o seu cativeiro em 1874, na Fazenda Santa Teresa, pertencente a João Gomes Ribeiro de Avellar, o Visconde de Paraíba. a entrevistada, conta como atravessou o século sendo a matriarca de uma dinastia jongueira que dançou o “jongo da roça” desde os tempos das senzalas, durante o ciclo do café em Paraíba do Sul até o fim de sua vida de sua vida na Serrinha, tradicional região de Madureira na zona norte do Rio de Janeiro.
[A roça de Teresa (26’). Direção, produção, montagem: Pedro Sol; Pesquisa, roteiro original, direção musical: Spirito Santo; Fotografia e câmeras: André Pamplona, José Carlos Soares]
14h – Pessoas-coisas-pessoas (Sala Castro Faria)
Ser al sonar: personas y artefactos sonoros entre los mapuche de Chile
Antonio Tobon (doutorando, PPGAS/MN/UFRJ)
Recolectando información etnográfica actual e histórica, en este trabajo se elabora una descripción de los artefactos sonoros que caracterizan a las prácticas musicales tradicionales del pueblo mapuche en Chile; como paso inicial para su observación en su situación contemporáneo en la ciudad de Santiago. En esa medida el objetivo de este trabajo es analizar cómo los artefactos sonoros hacen parte de la construcción de la persona mapuche, que se funda en su desenvolvimiento efectivo en la socialidad. Así, se observa cómo algunos artefactos sonoros como el kultrún, la trutruka, el trompe, y la wada participan de relaciones entre personas mapuche y no mapuche, bien sea estableciendo reciprocidades, delineando las características de persona, o especificando sus corporalidades; lo que pide describir, no obstante, las prácticas en las que se les hace sonar. Para ello, se presta atención a las especificidades asignadas culturalmente a las materias con las que son construidos y a sus características sonoras. Con tal de aproximar un entendimiento a cómo las materias sonando transportan cualidades y capacidades, una vez que son transformadas en objetos para ser afectados por ciertos cuerpos, o para algún cuerpo.
Na virada do tarol e no corte da terceira: a relação entre pessoa, som e espaço em uma bateria de escola de samba carioca.
Felipe Barros (doutorando, PPGSA/IFCS/UFRJ)
Essa comunicação trará considerações parciais da minha tese de doutorado e da pesquisa de campo conduzida entre os anos de 2010 e 2014 junto aos integrantes da bateria da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro. A primeira parte da apresentação será dedicada à exposição do ciclo preparatório para o desfile carnavalesco, abordando momentos em que os integrantes do conjunto deixam de lado papéis sociais cotidianos e se submetem a uma rígida rotina de ensaios e hierarquia, composta pelas figuras de um mestre, diretores e ritmistas. Apoiado em uma discussão sobre os processos rituais e formas liminares de associação, serão exploradas as categorias classificatórias, modos de distinção e suas modulações operadas pelos integrantes (ritmistas) do grupo de percussão. Apresentarei como a noção de “integrante da bateria” é inventada a partir de uma complexa rede de relações de reciprocidade que se expressam a partir das noções de “moral”, “confiança” e “comprometimento”. A intenção é demonstrar como a concepção de “pessoa” está diretamente relacionada à participação em um calendário de atividades e situações de performance que culminam no desfile de carnaval. Na segunda parte da comunicação, partindo de discursos nativos, será demonstrada a relação direta entre organização social do som e do espaço. Inicialmente serão examinadas as formas de organização do conjunto no espaço (concepções de espaço) e os valores morais atribuídos a determinados elementos sonoros e técnicas corporais. A intenção é demonstrar a continuidade entre os sistemas de classificação de pessoas, instrumentos (tambores), sons e espaço. Para isso, serão apresentados exemplos gráficos (mapas) da organização espacial da bateria e exemplos sonoros de “levadas” de instrumentos de percussão (tarol e surdo de terceira). Busca-se, assim, mostrar como tais sistemas de classificação convergem e se manifestam em situação de performance, sendo de fato, indissociáveis.
“Pessoa tambor”: escuta, fuerza e resistência no candombe da costa sul da cidade de Montevidéu - Uruguai
Virna Plastino (Coordenadoria Estadual por Memória e Verdade/SEASDH)
Baseada no estudo particular de famílias afrouruguaias de um ‘território negro’ de Montevidéu chamado Ansina, busco contribuir em direção a uma teoria etnográfica da “pessoa tambor” que dê maior inteligibilidade a outros contextos em que o toque, a dança, as famílias, os bairros e os movimentos de resistência afro se entreteçam. Examinarei as experiências relacionadas aos atos de tocar tambor e de dançar, bem como a noção de fuerza acionada especialmente na execução de ambas as atividades. Produzida através da escuta do chamado ancestral, veremos que a fuerza perpassa os corpos, impregna os objetos e espaços especiais. Os aspectos agonísticos associados a essa escuta diferencial fazem desta uma importante ‘arma de guerra’ própria daqueles que descendem de Ansina e convivem com seus tambores.
2 de julho
Música e Mobilização
Atividade de Mobilização contra o Golpe
Candombe Afro-Uruguaio, Baque Mulher e Ritmista de Escolas de Samba no Ocupa BaTuque - Treme Temer ao Som do Tambor! OcupaMinc/Palácio Capanema, 2 de julho de 2016, Rio de Janeiro
Candombe Afro-Uruguaio, Baque Mulher e Ritmista de Escolas de Samba no Ocupa BaTuque - Treme Temer ao Som do Tambor! OcupaMinc/Palácio Capanema, 2 de julho de 2016, Rio de Janeiro
Preparação dos tambores do Candombe Afro-Uruguaio (Fotos: Olivia Cunha)
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